Era noite de Samhain, em Sintra. Embaladas pela melodia das harpas célticas e sobressaltadas pelo estridor dos trovões, rodeadas de druidas e fadas, eu e a amiga “holograma” ouvíamos atentamente o Gigi a fazer a apresentação do seu livro. Na noite em que os planos visível e invisível se tocam, nós estávamos onde devíamos estar…SINTRA.
Entre calendários megalíticos e almanaques sumérios, lá fomos circulando por entre aquelas estranhas e amáveis pessoas…Na realidade, as weird éramos nós.
Na história fica ainda a sabedoria antiga das Fadas e um ritual de queimada galega. Entre gargalhadas mal abafadas e o forte sabor da mistura de bebidas que saía daquele caldeirão em chamas, lá fomos proferindo as palavras do “conjuro da queimada”:
“Mouchos, coruxas, sapos e bruxas.
Demos, trasnos e dianhos, espritos das nevoadas veigas.
Corvos, pintigas e meigas, feitizos das mencinheiras.
Pobres canhotas furadas, fogar dos vermes e alimanhas.
Lume das Santas Companhas, mal de ollo, negros meigallos, cheiro dos mortos, tronos e raios.
Oubeo do can, pregon da morte, foucinho do satiro e pe do coello.
Pecadora lingua da mala muller casada cun home vello.
Averno de Satan e Belcebu, lume dos cadavres ardentes, corpos mutilados dos indecentes, peidos dos infernales cus, muxido da mar embravescida.
Barriga inutil da muller solteira, falar dos gatos que andan a xaneira, guedella porra da cabra mal parida.
Con este fol levantarei as chamas deste lume que asemella ao do inferno, e fuxiran as bruxas acabalo das sas escobas, indose bañar na praia das areas gordas.
¡Oide, oide! os ruxidos que dan as que non poden deixar de queimarse no agoardente, quedando asi purificadas.
E cando este brebaxe baixe polas nosas gorxas, quedaremos libres dos males da nosa ialma e de todo embruxamento.
Forzas do ar, terra, mar e lume, a vos fago esta chamada: si e verdade que tendes mais poder que a humana xente, eiqui e agora, facede cos espritos dos amigos que estan fora, participen con nos desta queimada.”
Fica na memória o encanto do episódio e a aprendizagem de que o ano não se vive apenas com o corpo, mas também com a alma.
Obrigada F pela foto fantástica :-))